sábado, 26 de julho de 2008
Entrevista / Duofel
Imagens musicais
Em Olho de Boi, a segunda parceria do Duofel com Hermano Penna
O Duofel é formado pelos músicos e autodidatas Fernando Melo (violões de 12 e cinco cordas) e Luiz Bueno (violão de cinco). A história deste duo começou em 1977, quando os dois faziam parte da banda de rock progressivo Boissucanga. Em 1978, tendo como grande fonte de influência, a música do mestre Paco de Lucia, a música dos índios tabajaras e, acima de tudo, Egberto Gismonti, o duo resolveu viajar pelo Brasil. Com essas referências, viajaram pelo nordeste do Brasil e, no ano seguinte, em São Paulo, começou a se apresentar em bares e casas noturnas do circuito alternativo, já com o nome Duofel (cuja origem é a junção das palavras ‘dupla Fernando e Luiz’). Em seguida, engataram sete anos de parceria musical com Tetê Espíndola.
Sua estréia na produção própria ocorreu em 1987, quando lançaram o Duofel Disco Mix. A dupla também trabalhou ao lado de músicos como o violonista paraense Sebastião Tapajós e o percussionista indiano Badal Roy. Em 1996, lançaram Kids of Brazil, álbum que contou com os arranjos de Hermeto Pascoal e no qual o Duofel celebra duas décadas de parceria com um show ao vivo gravado no Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1999. No repertório, estão em registro diferente algumas composições dos próprios que constavam do anterior Atenciosamente Duofel (Trama, 1999), onde eles exaltavam seus influenciadores. É pra Jards, samba recorrente dedicado ao carioca Jards Macalé, ganha um pandeiro cheio de chinfra batido por Fábio Pascoal. Sebastião Tapajós é contemplado com uma balada repleta de divagações, que exibe o “lado mais pop” do Duo. Gismontada, de 1979, imprime a melodia na própria harmonia com acordes enevoados. Oswaldinho do Acordeon empresta um acento agreste à planura melódica da toada Lamento Noturno, primeira composição oficial da dupla. Fax Para Uakti tem violões tocados com arcos como rabecas, na direção inventiva do grupo mineiro. Donos de uma dicção que remete ao abstracionismo progressivo, Melo & Bueno plugam o fio terra nos dois encontros mais orgânicos do disco, Azul da Cor da Manteiga e Surfando no Trem, ambos com Hermeto Pascoal infernizando (e divinizando) tudo, a bordo de sua indefectível escaleta (citando até o Bolero, de Ravel), com direito a improvisos vocais repentistas. As duas faixas são a cereja do bolo de aniversário da dupla. Em 2000, lançaram o Duofel 20. Atualmente, trabalham o lançamento de seu mais novo CD.
Como surgiu o convite para realizar a trilha do filme?
Já havíamos realizado a trilha de Vôo Cego Rumo Sul, nosso primeiro trabalho com Hermano e a empatia foi instantânea e Olho de Boi foi conseqüência deste primeiro trabalho.
Como foi a concepção da trilha? Foi baseada na experiência que vocês já têm com este universo, o mundo musical do Brasil profundo, os sertões brasileiros de Guimarães Rosa?
O Duofel, quando iniciou em 1978, sentia falta de maior conteúdo artístico e durante um ano ficamos rodando o nordeste num roteiro “Bye Bye Brasil”, ou seja, sem destino, mas com um encantamento pela cultura brasileira de rua. Isto faz de nossa trajetória um diferencial e foi fundamental na concepção da trilha. Muito embora nunca seja caracterizado em qual região brasileira se passa a história, elaboramos a trilha com muita simplicidade. A música traz isto de bom a quem dela vive, pois os shows não se repetem. E isso faz com que viagens pelo Brasil afora se tornem rotina. Durante muitos anos acompanhamos cantores. Com Zé Geraldo andamos por todo Minas Gerais; com Tetê Espíndola também rodamos por todo o país durante sete anos. Estas situações nos trouxeram um enriquecimento muito grande sobre cultura de rua de diversas regiões. E isso foi fundamental para traduzir o drama de Olho de Boi para o universo musical.
Como casar estas concepções musicais com um filme, uma outra linguagem e outra forma de contar histórias?
Nossas músicas são muito “visuais” e sempre contam uma história. Não fazemos jazz, não entramos na improvisação, mas criamos uma música com identidade própria em sua forma. E é aí que o casamento com o cinema se concretiza com extrema facilidade, ou melhor, é aí que as duas linguagens se fundem em uma terceira linguagem complementar. Para fazer a música, simplesmente assistimos ao filme algumas vezes com o diretor e com o montador para, então, juntos concebermos o quê e onde deveria haver música. Feito isso, voltamos no tempo e, tal qual o cinema mudo, plugamos nossos violões. Enquanto assistíamos ao filme, íamos gravando simultaneamente. Por isso, são raríssimas as edições na trilha.
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