domingo, 3 de agosto de 2008

O filme

Olho de Boi


Tragédia no sertão profundo

Premiado em Gramado, filme chega aos cinemas nacionais




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Genézio de Barros e Gustavo Machado em cena de Olho de Boi

© Iatã Canabrava





Olho de Boi transpõe a tragédia grega para o sertão do Brasil. Ao mesmo tempo em que faz uma livre adaptação de Édipo Rei, de Sófocles, o filme explora o Brasil Profundo, o território geográfico e literário onde habitam os personagens do mestre Guimarães Rosa.

Participante do 35o Festival de Cinema de Gramado, em 2007, Olho de Boi foi contemplado com os prêmios de Melhor Ator para Gustavo Machado e Melhor Roteiro para Marcos Cesana, e marca a primeira experiência de Hermano Penna na direção de um roteiro que não foi escrito por ele.

Com história original de Marcos Cesana, o filme conta o drama de Modesto (Genézio de Barros) e seu protegido Cirineu (Gustavo Machado), dois peões de fazenda que se embrenham no sertão em busca de vingança. Modesto sofre com a suspeita trazida pela revelação que Cirineu lhe faz: sua mulher Evangelina (Angelina Muniz) o está traindo com seu próprio irmão. Fato ou não, o ódio, a mágoa, o ciúme e o amor formam um amálgama de sentimentos que confundem a razão e cegam a verdade. Tudo está refletido no olho escuro de um boi e no olhar cego de um Deus mudo.

“O que me encantou foi a possibilidade de dar forma cinematográfica à história e aos belos diálogos escritos por Cesana. Praticamente mantive história e diálogos conforme escritura original. Meu ideal com esse filme é estético e, portanto, moral. Lembro da última e terrível frase do Édipo de Sófocles: 'Por isso, não tenhamos por feliz homem algum, até que tenha alcançado o último de seus dias.”


Cenário paulista

Rodado em película 35mm, Olho de Boi teve como locações o interior de São Paulo, mais precisamente os arredores da cidade de Itu. “Não tive condições de filmar em Minas Gerais como desejava", confessa Hermano que, no entanto, encantou-se com o cenário encontrado em terras paulistas: "Ao me deparar com o micro ecossistema da região de Itu e de ver os campos onde boa parte dos filmes paulistas de cangaço foi realizada, com aquela natureza áspera, pedregosa, não tive dúvidas: aqui também são os campos de Minas Gerais", afirma. Com a questão das locações resolvida, Hermano se diverte ao recordar que, nas filmagens, "o difícil foi controlar o boi para filmar o seu olhar lacunar e triste”.

Tão importante quanto adequar a produção ao orçamento do filme, foi também unir o conceito estético à história que Hermano e Cesana haviam concebido. Por isso, o trabalho de fotografia de Uli Burtin e a direção de arte de Chiquinho Andrade são cruciais para a identidade de Olho de Boi. “Considero a fotografia e a direção de arte pontos altos no filme. Há uma bela comunhão entre a luz feita pelo mestre de luz Uli e a paleta de cores usada por Chiquinho Andrade. Elas dão ao filme uma cara única”, analisa Hermano.



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Angelina Muniz: personagem crucial para a história

© Iatã Canabrava



Elenco


O elenco tem papel fundamental na criação livre deste universo tão comum e singular ao mesmo tempo. Genézio de Barros e Gustavo Machado dão vida e voz a personagens seculares da história brasileira que nem sempre ganham um retrato fiel nas telas tanto do cinema quanto da TV. “A escolha dos atores foi tranqüila. Genézio eu já tinha visto em soberba interpretação no filme de Sérgio Rezende, Quase Nada. Gustavo eu conheci em uma peça dirigida por Laís Bodanzky. Assim que o vi atuando não tive dúvidas”, lembra Hermano.

Outra personagem crucial para a história, Evangelina, foi entregue a Angelina Muniz: "Para escolher Angelina foi só a memória viajar na busca das belas e grandes atrizes criadas pelo cinema brasileiro. Não há Jocasta mais bela e forte do que Angelina”, afirma o diretor, que fez questão de levar seu elenco para uma imersão no universo a ser retratado em uma fazenda no interior de São Paulo. “O resto do projeto foram muitos dias na fazenda em Itu, onde nos isolamos para discutirmos o roteiro, aprender a andar a cavalo, e trabalharmos na criação dos personagens", revela.

A trilha sonora criada pelo Duofel deu o tom universal ao filme. “Mais uma vez recorro à música para deslocar espaço e tempo e superar regionalismos folclorizantes”, diz Hermano.


Além de Gramado, Olho de Boi foi exibido na 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2007), no Palm Springs International Film Festival (EUA, 2008) e no 10e Édition Festival du Cinema Bresilien de Paris (10° Festival de Cinema Brasileiro de Paris,2008).

Olho de Boi tem distribuição nacional da Pandora Filmes.


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