segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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A edição de agosto da revista Guia da Vila Madalena traz Hermano Penna na capa.


Tragédia no sertão



“Olho de Boi”, longa-metragem dirigido pelo cineasta da Vila Madalena, Hermano Penna, está com lançamento marcado para o dia 15 de agosto. O filme, rodado em película 35mm, tem como locações o interior de São Paulo, mais precisamente as redondezas da cidade de Itu. O filme destaca-se entre as produções nacionais ao trazer a tradição da tragédia grega para o sertão profundo do Brasil.
Olho de Boi é uma livre recriação da tragédia Édipo Rei, de Sófocles, transposta para um sertão próximo do território humano e literário onde habitam os personagens do mestre Guimarães Rosa. “Esse roteiro, escrito pelo Marcos Cesana, caiu na minha mão por acaso e eu gostei muito dos diálogos, da história. Resolvi filmar. Em todos os outros meus filmes eu trabalhei o roteiro, e este eu quis fazer exatamente como estava lá”, diz Hermano.
Modesto (Genézio de Barros) e seu protegido Cirineu (Gustavo Machado) são dois peões de fazenda que se embrenham na noite em busca de vingança. Modesto sofre com a suspeita criada pela revelação que Cirineu lhe faz. Sua mulher Evangelina (Angelina Muniz) o está traindo com seu próprio irmão. Fato ou não, a dúvida, o ódio, a mágoa, o ciúme e o amor formam uma amálgama de sentimentos que confundem a razão e cegam a verdade. Tudo está refletido no olho escuro de um boi e no olhar cego de um Deus mudo.
Para o diretor, cada pessoa fará uma interpretação do filme. “A minha leitura é que este é um filme que trata da condição humana, da fragilidade desta condição. Você está completamente tranqüilo em relação à vida e de uma hora para outra acontece um fato, inventa-se um boato, e as coisas mudam”. Hermano lembra que a grandeza de um filme, de uma obra de arte, está justamente nisso, na multiplicidade de significados.
“Foram dois anos de trabalho”, comenta Hermano, “e a minha expectativa é que haja uma grande solidariedade do público ao cinema brasileiro. O cinema brasileiro está vivendo um momento muito difícil. Estão sendo produzidos filmes, a política governamental para produção está mais ou menos atendida, mas a questão da exibição está com entraves sérios. O mercado é dominado pelo produto estrangeiro, o mercado paralelo está ocupado pelos filmes não americanos, e nós fomos expulsos das salas de cinema. E lá se vão anos de vida e trabalho das pessoas...”.
Portanto, é só aguardar a estréia e assistir Olho de Boi, que integrou o 35º Festival de Cinema de Gramado, em 2007, onde foi contemplado com os prêmios de Melhor Ator para Gustavo Machado e Melhor Roteiro para Marcos Cesana.

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